As galerias de arte nas periferias de São Paulo estão se consolidando como importantes espaços culturais. Em 2024, a Favelarte Galeria Suburbana e a Galeria Sérgio Silva foram fundadas, promovendo exposições que visam dar visibilidade a artistas que não têm acesso ao circuito tradicional. Essas iniciativas não apenas enriquecem a cena artística local, mas também impulsionam a economia das comunidades de Paraisópolis e Monte Azul.

A Favelarte nasceu em dezembro de 2024, quando o artista plástico Moisés Souza e seu amigo Hermeson de Morais, conhecido como Ticano, transformaram um espaço ocioso em uma galeria. Moisés destaca que a proposta é mostrar a arte periférica e abrir oportunidades para artistas locais. Por sua vez, a Galeria Sérgio Silva, idealizada pelo fotógrafo Léu Britto e seu sócio Rogério Vieira, lançou a exposição FotoBeco, um circuito de arte ao ar livre que conecta a comunidade.

Ambas as galerias foram criadas sem patrocínios ou editais, utilizando recursos próprios e apoio da vizinhança. Moisés afirma que a Favelarte oferece um espaço para artistas que precisam de visibilidade, enquanto Léu enfatiza que a Galeria Sérgio Silva busca fomentar um mercado artístico local. As exposições movimentam a economia criativa, envolvendo desde montadores até fornecedores locais, fortalecendo a rede de trabalho na região.

Jamila Reis Gomes, geógrafa e pesquisadora, observa que esses espaços desempenham um papel crucial na criação de redes econômicas autônomas. Ela ressalta que a arte nas periferias é uma forma de empreendedorismo e resistência. Léu complementa que a intenção é fortalecer a comunidade, evitando que o dinheiro seja direcionado para imobiliárias externas. A produção artística nas periferias desafia o mercado dominante e cria novas centralidades culturais.

As galerias também têm um impacto simbólico significativo. Elas transformam a percepção dos bairros, que passam a ser reconhecidos por suas iniciativas culturais. O Mapa da Desigualdade 2024 revela que o Jardim São Luís, onde está Monte Azul, possui apenas um equipamento público de cultura, enquanto Paraisópolis não tem nenhum. Para mais de trezentos mil moradores, a Favelarte e a Galeria Sérgio Silva são essenciais para a sobrevivência cultural e econômica.

Apesar dos avanços, a sustentabilidade dessas iniciativas é um desafio. Moisés e Léu mencionam a necessidade de recursos para manter os espaços abertos e garantir que a comunidade compreenda a importância da cultura. A Prefeitura de São Paulo anunciou investimentos em cultura, mas Jamila destaca que é fundamental simplificar os processos de captação de recursos. A união da sociedade civil pode ser um caminho para apoiar essas iniciativas e garantir que a arte continue a florescer nas periferias.